domingo, 8 de novembro de 2015

O rosto da carência

Carência de atenção, de carinho, de toque, de ser o centro das atenções para alguém especifico. Carência de um bom papo no qual o outro está ali para saber de você, decifrar seu olhar, suas palavras, as ditas e principalmente as não ditas. Carência de ficar com o outro e de ser o foco do outro. Carente de amor, físico, daquele olhar que faz seu corpo tremer, suar, desejar. Carência de ser desejada, amada, acarinhada, cuidada, de ser fundamental momentaneamente para o outro. Carência de mão dadas, para atravessar uma rua, para caminhar na praia, para esperar ser atendida na emergência, para te segurar quando vai tropeçar, para cambalear com você quando a vodka começar a fazer efeito. Carência de poder chorar, silenciar, rir, gargalhar e o outro estar ali, compartilhando incentivando, acompanhando. Carência daquele momento em que você não precisa, tem o direito de não pensar no outro, pois é o outro que está ali, para você, com você, por você. Carência As vezes ela vem te fazer companhia, e aí precisamos lhe dar um rosto, um sorriso, um corpo. Precisamos fortalecê-la, mapeá-la, identificá-la. Por alguns segundos, essa identificação te aproxima da ilusão, do sonho, da idealização.... mas, é apenas a carência te olhando e dizendo, estou aqui, sou apenas eu, não crie, não amplie, não complique. O rosto é lindo, o corpo é perfeito, as palavras são quase reais. É isso que estar carente nos trás.

domingo, 31 de maio de 2015

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Dor de garganta..

Ontem o dia foi morgado, não que não tivesse nada para fazer, até tinha. Uma feijoada na casa de uns amigos recente. Talvez por serem recente, não me animei a ir. Queria estar com amigos antigos, aqueles que te reconhecem na entrada, tem até a liberdade de dizer: dormiu com essa blusa hj Rita?

Mas, esses amigos estão distantes, eu  me acostumei com sua ausência e eles com certeza com a minha. Mas sei que quando nos encontramos, tudo será como sempre foi.

Mas, quase estava mudando de assunto. Hoje quero falar de dor de garganta. Ela começou ontem, nesse dia morgado, no qual fiquei sentada corrigindo um texto, assistindo uma televisão, sem prestar atenção... aí ela foi chegando devagarinho.

Uma voz meia rouca ao responder uma pergunta banal, uma tosse, meia que fora de hora, a boa seca.

A noite chegou e com o sono, a garganta piorou. Viro de um lado para o outro, coloco  Propomão (própolis sabor romã) para aliviar e água muito água. A noite foi toda assim.

O dia amanheceu, deveria ir caminhar, mas desisto, a garganta não me deixa falar.

O recado esta dado: o que quero falar? o que esta preso na garganta?

É isso gente, o corpo fala, e quando ele se expressa precisamos ouvi-lo, e atender seu chamado.

A garganta solta a voz, nos possibilita expressar nossos medos, emoções, vitorias, alegrias, tristezas.

Parei,,,, tudo parece muito bem... trabalho, filhos, amigos, vida financeira, lazer. Até o ego. Aquela foto que o amigo publicou da festa ontem... bombou.... quantas curtidas, gostei...

Mas algo esta preso. O que?

Saudades..... de quem esta longe, mas principalmente de quem nunca esteve por aqui, talvez,,,, ou melhor com certeza, nos sonhos. E sobre isso não nos é permitido falar. Devemos nos calar.

Carência, falta de atenção, de carinho, rotinas pequenas, detalhes...... não mas tudo está bem, e tem tanta gente mal, então cala-te.

E foi isso, calei. Não me deixei falar, como me deixei dançar.

A garganta vai continuar a doer, pode até melhorar, mas as palavras não proferidas vão ficar  grudadas, machucando,  magoando, ferindo, demonstrando, minha total incapacidade de deixar as convenções de lado e gritar: tô carente, vem me acarinhar?

Recife 31/05/2015


sábado, 30 de maio de 2015



Um momento mágico.

Sempre gostei de dançar, não que eu saiba. Meus amigos e professores de dança dizem que não consigo me deixar levar, e que sou muito apressada. Bom, isso não importa.

Sabe aquela máxima "no peito do desafinado também bate um coração".. é isso... adoro quando tenho a oportunidade de dançar com alguém onde tudo se encaixa, os passos, o cheiro, a emoção, as mãos, os olhares, aquela sensação gostosa de sermos um só corpo, curtindo qualquer ritmo que seja: bolero, forro, samba, etc,. etc.

Ontem foi um dia assim. O salão não estava cheio, muito espaço para dançar, o piso perfeito para se deslizar. Olhei alguém. Quieto, parado, nem se mexia, parecia não estar em um salão com um forró pé de serra arretado de bom como fundo musical.

Eu, da minha parte, não conseguia ficar parada, acompanhava o ritmo e me sentia flutuar... sozinha.

De repente, Ele me chamou a atenção. Porque ? Sei lá... seu corpo, seu jeito parado, seu olhar distante. Alí naquela salão animado, contagiando todos e ele alí....disperso, distante.

Alguém chega perto e o tira para dançar. Uahhh!!! Minha intuição estava certa, que dançarino! que molejo! solto, gingado, levando sua dama para os quatro cantos do salão. Gente, incrível me emocionei e falei: vou tirar esse cara para dançar.

Nesse momento, tremi. Tenho 55 anos e posso dizer que só tirei amigos para dançar. Como fazer? E se ele falar não, uah!! ainda bem que essa parte fica para os homens. Mas estava decidida.

Comecei a acompanhá-lo. Voltou a ficar parado, distante, só observando. Então percebi que ele conhecia pessoas que eu conhecia. Uahh!! que bom fica mais fácil, ou melhor fica mais difícil.

Quem será ele? Será que está com alguém? Será que alguém está afim? Sei lá, mil coisas na cabeça.

O forró de fundo me desviada os pensamentos e fazia meu corpo balançar, bailar, me soltar. Me aproximei e falei: Vamos dançar?

Ele segurou minha mão, colocou nas minhas costas e me embalou. Nos primeiros instante, um descompasso apareceu, mas em seguida, sei lá por que fechei os olhos e não consegui abrir mais.

O momento mágico aconteceu.

Eu estava flutuando, nas nuvens, não sentia meus pés. Sentia apenas aquele perfume gostoso, aquelas mãos macias e firme me levando de um lado para o outro, dançando, bailando, me entregando.

Naquele momento, nada existia, o salão estava vazio, o forro era só para nós, ou melhor não existe nós e sim um só corpo que deslizava pelo salão,

Por alguns momento quis abrir os olhos, mas não conseguia. Estranho, nada era emocionante, nem o coração batia forte. Era uma paz incrivelmente harmoniosa com meu momento. Eu ali, com ele - nem sei quem é ele - e a música, um forró pé de serra que falava de amor...

O fim  chegou - sempre chega - ele agradeceu com um sorriso lindo, e voltou para seu canto e voltou a ficar parado, passando aquela imagem de alguém que não gosta, não sabe ou simplesmente não esta interessado em dançar.

Eu segui meu caminho, dancei com outros, dancei sozinha. A festa acabou, mas o momento mágico ficou e agradeço por isso.

Imprensa no Forró dia 29/05/2015.

sexta-feira, 22 de maio de 2015



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Cadê meu chão ?

Estou sem chão
Não consigo entender meu presente
Sinto-me ausente
Ausente de mim
O aqui e agora
Está indo embora
O que foi, o que está por vir
Misturam-se dentro de mim
Sigo para outra direção
Volto, procurando um corrimão,
Um norte, quem sabe um sul
Procurando apenas
Alguém que me renda 
Me faça compreender
Estar sem chão é ser você.



Recife, 23/05/2015


Contradição

"Como é estranho ser humano nessa hora de partida".

Rita Lee já dizia, e eu já chorava; chorava e já sofria... E como!!!... depois da despedida, aquele gosto amargo durava dias. Hoje... alguns minutos, talvez um pouco mais, porém uma sensação de saber que a vida é assim mesmo, de decepção pairava...e ainda paira no ar.

Achei que com a maturidade tudo ficaria mais facil; ficou? Sim.... me despeço.... olho para o infinito e lembro, tudo novamente.

Ele(a) chegou, participou da minha vida, me contou seus medos, seus sonhos, lutamos juntos, trabalhamos, compartilhamos rotinas, e aí..... tô saindo.... não vou perder o contato.

Ah! antes eu acreditava. Claro, vamos nos falar, vamos marcar. Olho novamente para o horizonte e penso: de vez em quando vou lembrar dele(a), as vezes com lagrimas nos olhos, as vezes com um sorriso no rosto, todas as vezes que ouvir determinada música, vou lembrar dele(a). Vou ficar feliz quando tiver noticias pelo face, por amigos em comum, mas ele(a) não estará mais compartilhando da minha rotina.

Simples assim... A vida é simples, mas dentro dessa simplicidade o que fazer com esse vazio que fica, que passa, eu sei, mas também sei que volto...apenas, sentir nos resta... sentir sua falta, encontrar outras pessoas para contar meus medos, meus sonhos, para trabalhando juntas, e depois, novamente, dizer.... fui... to saindo..

23/06/2015